quarta-feira, 15 de agosto de 2012

DIA DO SOLTEIRO ? E O DIA DO AMOR, QUANDO É ?



 Uma vida sem viver um grande amor não vale a pena ser vivida.


Deixa ver se eu entendi: isso é uma comemoração? Comemorar o quê? A solidão? Comemorar o fato de não ter alguém com quem compartilhar sua vida? Comemorar estar sozinho? E desde quando estar sozinho é bom? Desculpe, mas na minha faixa etária a esmagadora maioria das pessoas que estão sozinhas é porque estão descasadas. A minoria restante é porque não soube partilhar sua vida com ninguém e, vai ver, quase sempre é gente muito complicada, pouco afeita ao convívio. E as pessoas descasadas, que eu saiba, não estão nessa condição por uma situação de felicidade. Muito pelo contrário, estão assim porque passaram por algo infeliz em suas vidas. Caraca! Separação eu não desejo nem para os meus inimigos.

Agora, se a pessoa é solteira porque ainda é jovem e nunca se casou, tudo bem. Tá tudo certo, tem mais é que desfrutar da vida o mais intensamente que for. Mas não pense que irá desejar estar assim a vida inteira. Não pense que não precisa ou que não deseja alguém para amar, porque ninguém é imune ao amor. De todas as paixões, o amor é a mais nobre de todas, é a mais sublime. E a mais forte e arrebatadora de todas. Saibamos, portanto, que é importante conhecer o amor. Sobretudo, é importante viver um grande amor. Porque o amor é aquele sentimento que ninguém explica, mas que todo mundo entende (até os solteiros!). Não se pode passar por esta vida sem se viver um grande amor.

Creio que apenas uma meia dúzia de gatos pingados está hoje comemorando o Dia dos Solteiros. Pode até ser que dê matéria de jornal, mas pelo incomum que é a opção voluntária do solteiro. Ah! Cada vez mais pessoas optam por viver sozinhas... Já vi matéria de jornal assim. É meio que uma curiosidade a gente tentar entender o que faz uma pessoa optar por viver só. Por amor é que não foi, pois foi com certeza pela ausência ou pela negação dele. Ou então aquela conversa mole do amor próprio, com blábláblás de auto-estima etc.. Acaba que isso vira uma espécie de “eu me basto”, o que, como se sabe, não passa de uma bela neurose.

No meu caso, como o de muitos outros, estou solteiro porque fui infeliz no amor, o que não me dá nenhum motivo para comemorar este dia. Por que mentir para si mesmo? Estou melhor assim agora, solteiro? Sim, mas não porque desejasse que fosse assim, mas porque as coisas não deram certo. Porque fui infeliz. Porque chega a um ponto em que a nossa auto-estima, isto sim, nos diz que é melhor estar só do que tão mal acompanhado. Quisera que as coisas tivessem dado certo, pois com toda certeza estaria muito mais feliz do que estou agora, apesar de tão aliviado. Porque o amor tem desses riscos: ele te faz se sentir feliz e realizado. Mas se ele se desfaz, você se sente infeliz e arruinado.

Qual seria um dia oposto ao dos solteiros, tal como temos o Dia da Criança e o Dia do Idoso? O Dia dos Casados, que eu saiba, não existe. Mas tem o Dia dos Namorados. Tem coisa mais bonita que o Dia dos Namorados? A mídia deita e rola. Todo mundo compra presente pro seu namorado ou sua namorada. As pessoas casadas comemoram o Dia dos Namorados! Já vi casal de velhinhos pra lá de bodas de ouro comemorar o Dia dos Namorados! Coisa mais linda de se ver... E no Dia do Solteiro? Quem vai te dar presente? Você, para si mesmo? Espera receber os parabéns de alguém por ser ou estar solteiro? Se abraçam e se beijam, como fazem os namorados? Vão se reunir um monte de solteiros e solteiras, fazer festa e depois vão cada um para o seu canto, sozinhos?

Não, não me convencem. Estou solteiro, mas não me convencem. Definitivamente, viver sozinho não é bom. É muito melhor quando a gente sabe que tem alguém na vida em que se possa confiar, que vai estar ali com você, pro que der e vier, que quando você chegar vai se queixar porque demorou, porque sentiu a sua falta. Alguém que te cuidará na doença e que irá chorar a sua morte. É sempre bom saber que tem alguém que se preocupa com a gente. Me perdoem senhores e senhoras solteiros e solteiras, mas esta condição solitária não é boa, não sem ter nunca vivido um grande amor. Depois disso sim, até cabe a pessoa fazer tal escolha. Porque sem esse aprendizado a vida fica incompleta. Uma vida sem viver um grande amor não vale a pena ser vivida.

quarta-feira, 25 de julho de 2012


Indignação, Resignação e Medo


Hoje amanheci com aquela ideia do professor Darcy Ribeiro de indignar-se ao invés de resignar-se. Vejo nesta atitude alguma coisa altamente transformadora. Não há dúvidas de que este grande personagem da história brasileira nos deixou um grande legado de transformação sociocultural e, sobretudo, política, apesar de eu tanto discordar deste grande professor em termos teóricos. E ele reagia de maneira indignada quando o contestávamos, e enveredava por explicações efusivas na defesa de seus argumentos. Creio, portanto, que seus grandes feitos devem-se muito a esta atitude indignada, de não aceitar este mundo de modo passivo e agir sempre no sentido da transformação.

Que saudade da professora Berta, quando sorria carinhosamente da minha inquietação diante do aprendizado. Aqueles olhinhos da Nise olhando por trás daquelas lentes grossas e também sorrindo da minha inquietação, dizendo com afeto: “Leozinho, eles são apenas cartesianos...”. O olhar distante e sorridente do Ulpiano, quando lhe perguntava acerca da intensidade, da profundidade e da velocidade do pensamento. E ele respondia com palavras simples, que tão somente suscitavam mais e mais indagações: “etologia, Leonardo, etologia...” O respeito e a seriedade de um Dom Estevão, quando me ajudava nas minhas pesquisas, apesar dos temas serem tão adversos aos seus próprios interesses. Que coisa maravilhosa na vida ter tido tão bons professores, desde a tia (de verdadeiro parentesco!) que me alfabetizou, aos velhos índios que conheci e tantos outros, que não mais faziam senão libertar minha mente, me mostrando a Liberdade que podemos auferir nos nossos próprios pensamentos.

Ora, quer me parecer que isto é muito natural, esta “coisa” da transformação. O que é a Natureza senão permanente transformação? Que sentido tem a vida quando não muda permanentemente? O compasso ternário da dialética de Hegel / Marx, que começa lá atrás, antes do Sócrates. O tão antigo Eterno Retorno do Nietzsche, que teve a coragem de esculachar mais de dois mil anos de filosofia. Como é alentador ver o brilho nos olhos dos meus alunos quando lhes falo do Ser em Parmênides e do Vir-a-Ser em Heráclito. Que transformações poderão estar ocorrendo naquelas mentes jovens quando lhes proponho tais pensamentos? Ora, se este último dizia que “tudo é um”, o que é, afinal, a tão propalada Criação, senão uma transformação radical do cosmos? Ou do vazio? Ou do caos? Não seria a Criação um Devir permanente? Mas com que facilidade por aqui, alguns facebookianos falam de Deus, ou mesmo do Amor, quando é certo que nem um nem outro, por entidades que são, jamais poderão responder. Quando, possivelmente, os estão procurando em si mesmos ou à sua volta. Ai, que coisa mais chata e piegas o tal do "beijo no coração". Francamente, não há nada de transformador nisso.

Tantas que são as trocentas mensagens que caem a cada segundo nos nossos feeds de notícias, que, em sua maioria, de nada servem para alimentar as mais pobre almas, senão embriagá-las com doce simbologia. Em sua maioria, carregam certo ranço de auto-ajuda, com a pretensão de proporcionar ao outro algum bem, quando, talvez, não passam de uma busca desesperada de fazer o bem a si mesmo. Um modo subliminar de mentir a si mesmo, de escamotear sua própria falta de atitude, seus medos e suas frustrações, uma completa falta de indignação. Como que varrendo para debaixo do tapete um enorme cagaço de viver. Mandam pro ar aquela imagem ou texto bonitinho, apropriando-se de maneira indébita das sabedorias alheias, de grandes seres humanos como o Chico Xavier, Madre Teresa, Gandhi etc., quando não atribuem ao Freud, ao Nietzsche, ao Platão ou ao Aristóteles etc., frases que eles jamais expressaram. Tornamo-nos escravos dos nossos tão nobres valores e os cultivamos em demonstrações públicas, sem nos dar conta que estamos confundindo as palavras com as coisas.

O teclado é como o papel. Ele aceita tudo sem contestar. Que tipos de seres viventes estamos nos transformando, que sentamos diante de uma telinha e mandamos ideias vazias a esmo? Que recebemos tão passivamente tantas informações falsas e nos emocionamos e, até, por vezes, nos indignamos com elas. Mas não será uma espécie de indignação controlada, reificadora e a serviço do establishment? Creio que os seres humanos nunca mentiram tanto, a si mesmos e a outrem, depois do advento da Internet. Nunca se formaram pensadores tão estéreis, depois que passaram a se comunicar através das redes de relacionamento. Talvez, o ser humano não tenha vivido tão sem dignidade como nos dias de hoje. E toda essa dominação é simbólica, combinada a mecanismos materiais informados pela sociedade de consumo. Marx se surpreenderia com os níveis de mercantilização a que chegaram as sociedades atuais. Compra-se corpos para o sexo como quem compra roupa ou comida. As vaidades e as aparências se sobrepõem a qualquer conteúdo. Tudo é mercadoria banal. E mais: dá pra pensar em coisa mais idiota, p. ex., que o tal do sexo virtual? Como é possível essa coisa chamada sexo, sem contato físico? Sem cheiro, sem toque, sem pegada? Ulpiano estava certo, quando me indicava que boa parte do comportamento humano na atualidade é objeto da etologia e não apenas das ciências sociais ou da psicologia. E olhe que nessa época a Internet ainda nem tinha começado, pois o TCP/IP existia somente nos laboratórios das universidades e nos grandes computadores das forças armadas americanas.

A tão propalada “democracia virtual”, que tanto comemoramos nos idos da década de noventa, começa agora a demonstrar-se uma bela de uma falácia. Ou será que não dá pra reparar que o Windows é programado de forma ao usuário não ter nenhuma vontade própria? Quantas não são as rotinas que se processam em segundo plano sem que o usuário possa se aperceber disso? Tudo remete para a rede. Um monte de links ocorrem sem a nossa permissão e coletam informações das nossas máquinas e informações pessoais e mandam para Microsoft e para os sites dos fabricantes dos “programas gratuitos”. E desde quando existe alguma coisa de graça na sociedade capitalista?! Nem o Bolsa-Família é de graça, por eleitoreiro que é.

Vejo máquinas por aí, cujos navegadores estão infestados daquelas barras de tarefas que os programas instalam. Um monte de inutilidades que nada mais fazem do que onerar os processamentos da máquina, fazendo links desnecessários, ao mesmo tempo em que gravam no inconsciente do usuário aquele monte de logomarcas dos fabricantes dos programas. E o usuário deixa, apesar da opção de não instalação que o programa oferece, apenas por razões legais. E, por isso mesmo, não adianta reclamar, porque o usuário deixou durante a instalação. Só não se observa que aquela opção entra default, e o Zé Mané Digital não pára para prestar a menor atenção e consente. Agora me digam: tem coisa mais reacionária e arbitrária do que essa história de você simplesmente passar o ponteiro do mouse em cima de um ícone e ele imediatamente fazer um link? Subtraem em absoluto a nossa liberdade de escolha e ainda chamam a isso, eufemisticamente, de “melhoria da experiência do usuário”.

O Windows não é apenas um sistema operacional: é, sobretudo, um sistema perverso de dominação social. Assim não fosse, o programa travaria e te impediria de utilizá-lo tão logo detectasse sua instalação pirata. E aí me pergunto? Por que será que o WinXP começou a carimbar os usuários domésticos com o alerta de software não original, logo após o presidente apedeuta ter esnobado o Bill Gates em Davos? E sob o argumento de uma opção pelo software livre que jamais se efetivou sequer no serviço público. E o Projeto do Linux Kurumin tornou-se objeto da elite digital... Mas é bem verdade que o carimbo de software pirata passou a acontecer pelo mundo afora, numa eficiente indução à compra daquela mercadoria única, um único sistema operacional que dominou a maior parte do planeta. Será que nunca repararam que as atualizações automáticas entram default? Mais um eufemismo: recomendáveis. E a condenação do Megaupload? Terá sido isso tão democrático assim? A este respeito eu vi muito mais piadas do que indignações, quando proibiram o maior acervo de informações digitais que jamais existiu.

Agora a Internet chegou aos nossos aparelhos celulares, essas coleiras eletrônicas que tomam horas do dia de uma pessoa. Estamos plugados no Facebook vinte e quatro horas por dia. Ocupamos nossa mente com baboseiras na maior parte do tempo em que estamos sob estado de vigília. Ao dormir, sonhamos com isso. É um tipo de virtualidade da virtualidade. O que Étienne de La Boétie observou quase quinhentos anos atrás e o que Jean François Brient tentou nos alertar recentemente, soa para muitos como algo maçante, pessimista, meio down. As mensagens de auto-ajuda são mais legais, pois tranqüilizam e aprisionam de maneira dócil, gentil. Vivemos a servidão mais voluntária de todos os tempos: as pessoas preferem o medo à indignação. Ainda no primeiro governo do apedeuta, o medo sobrepôs-se à esperança e o povo brasileiro resignou-se à violência e à corrupção. Muito mais poderia escrever sobre tudo isso, mas prefiro ficar por aqui, com a sensação de que já falei demais. Eis porque, prefiro me indignar.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Carta Aberta ao Deputado Felipe Peixoto

Lixo nas redes dos pescadores em Itaipu


Meu caro Felipe,

Muito me agrada sua iniciativa de formular e promover uma política pública para aquele canto tão sofrido de Itaipu, e mesmo para a toda a pesca do Estado do Rio de Janeiro. Aquele cantinho tão belo, mas tão sofrido socialmente, tão sofrido ambientalmente e culturalmente massacrado, tanto de um ponto de vista antropológico quanto arqueológico. Há muito que os pescadores de Itaipu têm sido submetidos às mais hediondas injustiças. Há muito que a nossa cidade, que já foi um dia o maior desembarque pesqueiro do país, precisa de iniciativas eficazes no sentido da promoção da atividade pesqueira e, sobretudo, da proteção das suas comunidades tradicionais.

Eu me lembro de criança, meu caro Felipe, quando você ainda não era nascido, as maiores injustiças já se perpetravam contra aquela gente. E já lá se vão umas três ou quatro gerações daquela comunidade, onde da sociedade envolvente conheceram somente a cooptação, a exploração da imagem, o esbulho de suas terras, a descaracterização de seu modo de vida e das suas estratégias de sobrevivência, dentre tantas outras intervenções desastrosas. Sobre esta comunidade deitaram-se olhares os mais cobiçosos, e a esmagadora maioria das iniciativas externas, seja dos poderes públicos, seja de natureza comunitária ou acadêmica, resultaram em verdadeiros desastres socioambientais.

Por isso, apesar do alento que provoca a notícia desta iniciativa governamental, muitas dúvidas me ocorrem, a mim e a muitos outros que, como eu, possuem um forte laço afetivo com aquele lugar e com aquela gente, mas que se calaram diante de tanta mesquinharia e das repressões que sofremos ao levantar a voz em defesa daquele lugar e daquela comunidade. Repressões essas, vindas de setores poderosos da sociedade, que cooptam nossos aliados e nos derrubam com fogo amigo. Dúvidas de como resolver uma equação política extremamente complexa, uma equação construída ao longo de décadas de descaso e de políticas públicas equivocadas, senão resultado de visões de mundo elitistas e preconceituosas, no mínimo, resultado da prevalência de interesses exclusivamente pecuniários e eleitoreiros.

Dentre as inúmeras variáveis desta equação política, as mais complicadas são as variáveis socioeconômicas e as ambientais. Socialmente, aquela comunidade agregou ao longo do tempo inúmeros atores sociais externos que a levaram a uma desagregação interna, a ponto de comprometer sobremaneira os seus mecanismos internos de coesão social. A cizânia foi tamanha que hoje é, tecnicamente, quase impossível recompor aquele tecido social tão peculiar, algo que foi um dia sui generis. Mas assim mesmo, existem remanescentes daquela comunidade que até poderiam fazer recompor algo ainda semelhante ao que já foi um dia, desde que respeitados seus mecanismos internos de organização social e, sobretudo, os seus direitos.

Economicamente, a atividade pesqueira sofreu enormes impactos do crescimento urbano desordenado da Região Oceânica de Niterói, que nos trouxe a famigerada especulação imobiliária, hoje vigente nesta cidade, e implantou uma desordem fundiária quase letal para a atividade pesqueira. Veja-se, por exemplo, o que aconteceu às áreas aforadas à Colônia. Ora, isso faz da Enfiteuse uma das variáveis desta equação política que só o Gerenciamento Costeiro, via Projeto Orla, poderá tentar ordenar, mas se for feito com muita justiça e seriedade, e sem a ingerência de setores corruptos e reacionários da sociedade envolvente. Some-se a isso as ligações perigosas que a Colônia contraiu com a máfia que dominou a pesca no estado nas últimas décadas. Talvez este, um dos principais motivos da decadência que observamos nesta atividade econômica em nosso estado.

Ainda neste campo econômico, mas já transpassado pelas variáveis socioambientais, temos o equívoco que foi o impedimento da criação da Reserva Extrativista. A Resex de Itaipu é uma espécie de obviedade que a máfia da pesca e setores extremamente conservadores da sociedade não conseguiram assimilar e a impediram de ir a termo sob as maiores injustiças e oportunismos políticos. É que se tratava da adoção de paradigmas socioambientais que a sociedade envolvente e a nossa classe política ainda estão muito longe de perceber a importância. Não fosse isso, nossa cidade, nosso estado e este país não estariam insistindo nesta tragédia ambiental cotidiana, que constrói cidades imundas, que diminui Unidades de Conservação para consolidar a indústria do licenciamento, que não consegue sequer processar o lixo, enfim, que não consegue se aproximar de qualquer tipo de sustentabilidade verificável.

Como agravante da variável ambiental desta equação política, temos o comando hipócrita que domina o meio ambiente no Rio de Janeiro e chegou a ser exportado para níveis nacionais. Foram os asseclas deste comando hipócrita que impediram a criação da Resex de Itaipu, pois enganaram os pescadores e resolveram favorecer os setores mais corruptos e conservadores da sociedade, em detrimento das necessidades e interesses daquela gente. A própria Marina Silva determinou a criação da Resex ainda no início do primeiro governo Lula, mas os asseclas do comandante hipócrita, associados aos mais diversos eco-oportunistas, trataram de impedir. Tudo aquilo de destruição ambiental que Marina Silva conseguiu conter em mais de quatro anos de governo, foi detonado em apenas alguns meses, o que resultou, dentre tantas devastações do ambiente, nos Belos Montes da vida, culminando neste golpe que ora é desferido contra o Código Florestal.

Se hoje todos lamentam o, por assim dizer, “leite negro” do bota-fora derramado na entrada da Baía da Guanabara e defronte da praia de Itaipu, não foi por falta de aviso dos próprios pescadores daquela comunidade. Eu mesmo estive com eles reunido com promotores do MP em Niterói alertando sobre o crime ambiental que a Cia. Docas estava em vias de cometer. Mas todos se fingiram de mortos, incluindo o MP e os correligionários do comandante hipócrita, pois se omitiram e deixaram acontecer um crime ambiental de proporções ainda não dimensionadas, que ainda haverá de se manifestar por muitas décadas, talvez séculos, sobre a pesca e sobre as praias oceânicas da nossa cidade. Tal como se configura agora no horizonte o despejo dos resíduos do COMPERJ em Itaipuaçu, onde o INEA faz as vezes de IBAMA, ao arrepio constitucional da competência federal sobre o mar. A sociedade civil organizada de Niterói e de Maricá já deram o alerta. Vamos ver no que vai dar, pois neste caso cabe até mesmo o concurso do MPF, já que o MPE já se mostrou ineficaz neste e em diversos outros casos, tal como foi o a diminuição do Parque Estadual da Serra da Tiririca, da recategorização ilegal da Reserva Municipal Darci Ribeiro e diante dos absurdos urbanísticos de Niterói, que já perdeu o seu antigo sorriso.

Por fim, meu caro Felipe, tenho a dizer que te desejo sucesso e que sua iniciativa faz reacender uma esperança, mas com uma chama ainda muito tênue, pois a complexidade desta equação política pode vir a comprometer os resultados desta e de qualquer intervenção em Itaipu, tal como demonstram as experiências pregressas. Mesmo confiando na sua capacidade empreendedora e reconhecendo a sua enorme sagacidade política, ainda assim, tenho receios. Pois o problema não se resume apenas ao ordenamento urbano e à montagem de uma infra-estrutura para a pesca. O problema se coloca sob os maus olhos que se deitam sobre aquele lugar, dentre os mais belos da nossa cidade, e exercitam um tipo de mesquinharia que resulta da prevalência de interesses os mais retrógrados, que praticam um tipo de relacionamento político que há muito precisamos superar, sob pena de fracassarmos nas mais elementares políticas públicas que tentarmos empreender.